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A mostrar mensagens de outubro, 2016

Leituras de Verão


Listas de leituras são coisas estéreis em si mesmas. Quanto a mim, têm só estes dois usos: dizem a alguém de que é que alguém outro, em parte, é feito e podem servir como recomendações de leitura para quem as procura. Quem não deseja nenhuma dessas duas coisas considerará, com toda a razão, listas como esta coisas completamente inúteis. 

Os títulos que seguem, à excepção dos três últimos, encontram-se por ordem aproximada de leitura. As referências estão propositadamente incompletas porque quis que figurasse a data da primeira publicação. Naturalmente, não coincidem sempre com o ano da edição de que me servi.  

GERSÃO, Teolinda, Passagens (2014).

CULLER, Jonathan, Literary Theory: A Very Short Introduction (1997).

CAMÕES, Luis Vaz de, Os Lusíadas (1572).

PASCOAES, Teixeira de, Santo Agostinho (1944).

NETO, Joel, A Vida no Campo (2016).

ALMEIDA, Onésimo Teotónio, BRÁS, João Maurício, Utopias em Dói Menor: Conversas Transatlânticas com Onésimo (2012).

MELO, João de, Açores: O Segredo das Ilhas (2016).

LAU, Franz, Lutero (1966).

VILLARES, Artur, Lutero: As Portas do Paraíso (1980).

SANTO AGOSTINHO, Confissões (397-401).

SAINT-EXUPÉRY, Antoine de, The Little Prince (1943)

O Santo Evangelho Segundo S. Marcos.

Livro do Eclesiastes.

Livro dos Provérbios.

Aqui não se incluem leituras esparsas e parciais porque essas seria difícil referir.

“Martinho Lutero,” de Orlando Neves (notas de leitura)



(O que se segue são meras notas de leitura de um livro que encontrei por acaso em Agosto de 2013 num lugar insuspeito. Desde então nunca mais lhe tive acesso.)

Uma pequeníssima biografia por um homem de letras do nosso país. Texto fresco, predominantemente narrativo, com segmentos dialógicos. A narrativa não é linear; antes, há recurso a analepses e a prolepses. É um texto criativo. Neste Martinho Lutero, acompanhamos de forma muito resumida, e não sem intensidade dramática, alguns dos principais acontecimentos da vida do maior reformador da Igreja ocidental.

Orlando Neves apresenta-nos um doutor da Igreja determinado, culto nas artes, na retórica, na filosofia, no direito, na tradição eclesiástica e nas Sagradas Escrituras, o qual, enquanto frade da Ordem de Santo Agostinho, e durante os primeiros anos da Reforma, foi um filho devoto da Igreja Romana, um súbdito leal do papa e um zeloso, severo e escrupuloso cumpridor da regra da Ordem. Lutero, no entanto, desejoso de alcançar a certeza da salvação, não a encontrava em nenhum dos rigores a que se submetia; pelo contrário, vivia sobressaltado com a ideia de um Deus que exige perfeição do ser humano ao mesmo tempo que o condena pela sua inevitável imperfeição. Lutero, no mosteiro, desconhecia a graça de Deus até ter redescoberto o Evangelho que havia sido obscurecido pela Igreja medieval. O movimento da Reforma que se seguiu foi, em primeiro lugar, o conteúdo dessa redescoberta tornado público.

A narrativa de Orlando Neves acompanha alguns dos momentos-chave da vida de Lutero sem de maneira alguma esgotar o movimento que iniciou, ou o período dentro dele sobre que incide, ou mesmo os poucos momentos que apresenta. Este pequeno livro não tem a intenção de oferecer mais do que uma mera introdução criativa a Lutero e à Reforma num país que lhes tem dedicado pouca atenção, e é principalmente aí que reside o seu mérito. 

É, quanto a mim, notório que o autor não quis oferecer uma alternativa à biografia portuguesa de Lutero que lhe precedeu Lutero: As Portas do Paraíso, de Artur Villares (1980), que, sendo também um livro pequeno, goza de outros predicados. O livro de Orlando Neves é um livro inteiramente diferente do de Artur Villares, talvez escrito com um tipo de leitor diferente em mente.