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A mostrar mensagens de janeiro, 2017

A inauguração de um demónio


Cessa um santo, inaugura-se um demónio. O demónio Trump representa todo o mal do mundo que nós, progressistas, profundamente humanos e avançados, batalhamos. O santo Obama é o nosso irmão simpático, polido, eloquente, moderno, o epítome da civilização e sofisticação, mas sem peneiras. Um homem do povo, pelo povo, por todos os povos. Ele é melhor do que os que o precederam; sobretudo, do que Bush, o belicoso. Certamente, Obama é muito melhor do que Trump, o demónio – demónio porque concentra em si todos os defeitos do homem branco heterossexual, i.e., misoginia, homofobia, xenofobia, machismo, e muitas outras fobias e ismos. Por tudo isso, e muito mais, choramos a cessação do santo Obama e a inauguração do demónio Trump. Fazêmo-lo porque somos pela vida, pela igualdade, pela aceitação, pelas fronteiras abertas, pelas oportunidades, pela união das famílias, pelos marginalizados e pelos pobres. Fazêmo-lo porque estamos certos de que o santo Obama não se dava aos pecados anunciados e denunciados de Trump. 

Preferimos ignorar que

(1) de acordo com o Departamento de Segurança Nacional, a administração Obama deportou 2,5 milhões de imigrantes entre 2009 e 2015. Obama foi o presidente dos EUA que mais deportou imigrantes na história do país; 

(2) existe há muito um muro que demarca a fronteira entre os EUA e o México. No fim da administração Obama, esse muro ocupa já cerca de 33% da fronteira entre os dois países, mas acusamos Trump de querer começar a construir essa barbaridade;

(3) a dívida pública dos EUA aumentou em 87% durante a administração Obama, o que representa 19,9 triliões de dólares. A dívida pública dos EUA nesta altura supera 100% do PIB. Mas é Trump, dizemos, que vai afundar um país que estava na rota do sucesso;

(4) Bush era belicoso. Augura-se que Trump venha a ser belicoso. E conta a lenda que Obama, pelo contrário, teve uma política de contínua desmilitarização dos EUA. No entanto, o prémio Nobel da Paz Obama mandou bombardear 7 países em 5 anos;

(5) Obama esteve 8 anos à frente de um país em guerra no estrangeiro – feito que nunca antes foi conseguido por nenhum presidente americano.

Adeus, santo Obama. Choramos a inauguração do demónio Trump.


P.S.: Agradeço ao amigo João Brás a gentileza de ter cedido os dados.