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João Penha: "Os Dous Asnos"


O Facebook faz-me o favor de me lembrar todos os anos, depois de 2014, que partilhei no dia 1 de Março este poema do João Penha que, de resto, costuma andar perdido nos recessos da minha memória. Eu, que gosto dele, não tenho resistido a cada dia 1 de Março a partilhá-lo novamente. Tenho apenas uma meia dúzia de amigos que fielmente lhe põem um gosto, também eles quase sempre os mesmos, o que é peculiar. Gosto particularmente do verso “E tu, que sobresahes pelas orelhas”. Faz-me rir imenso.

OS DOUS ASNOS

Um cavallo que tinha o rei no bôjo,
Disse ao magro jumento d'um moleiro:
– “Da minha raça, tu? Causas-me nojo;
Tu fazes rir: és menos que um sendeiro.

“A mim, me adornam selas e xaireis,
Magníficos arreios e gualdrapas;
Em mim cavalgam principes e reis,
Homens de guerra, bellas damas guapas.

“E tu, que sobresahes pelas orelhas,
Por sobre a albarda que te adorna a espinha,
Que levas, asno? Diz? Canastras velhas,
Teu dono: um ôdre, ou sacos de farinha!”

– “É verdade o que dizes, disse o burro,
Sou humilde, nem pompas allardeio,
Mas trago a bôca livre, e livre zurro, 
E tu, pedaço d'asno, andas de freio!”