Mensagens

A mostrar mensagens de 2019

Joana Vasconcelos em Miami


Obra fruto da recente colaboração de Joana Vasconcelos com Roche Bobois estará exposta no Art Basel Miami, nos próximos dias 5-8 de Dezembro.

Em antevisão à renomada mostra, JV estará 45 minutos à conversa com Brian Kelly, crítico do Wall Street Journal, no dia 2, a partir das 11h15, no Pérez Art Museum Miami. A conversa será seguida de exibição das seis obras. O evento é exclusivo para assinantes do jornal. 

Roche Bobois, uma das líderes mundiais no design de mobiliário e acessórios domésticos de alta gama, cedeu ao kitsch. É pena. Como se pode ver na brochura, as peças da companhia parisiense ficam desprovidas de apelo estético quando se dão às vistas assim pobremente adornadas.

Jorge de Sena / A Força das Coisas


No início deste mês, no dia 2, pelo centenário do nascimento de Jorge de Sena, Luís Caetano passou no seu programa na Antena 2, A Força das Coisas, a estrevista de Leite de Vasconcelos a Jorge de Sena para a Rádio Moçambique, em 1972, produzida por Manuel Tomaz. Vale a pena ouvir e guardar.

Emily Dickinson: "Much madness is divinest sense"


Much madness is divinest sense
To a discerning eye;
Much sense the starkest madness.
'T is the majority
In this, as all, prevails.
Assent, and you are sane;
Demur, – you're straightway dangerous,
And handled with a chain.

Postal (2): Jacob Jordaens / Selo



Postal comprado no museu do Louvre de Abu Dabi, capital dos Emirados Árabes Unidos, inaugurado em 2017, fruto de cooperação entre a cidade e o governo francês. A pintura reproduzida, O Bom Samaritano (1615-16), é de Jacob Jordaens (1593-1678), pintor barroco da Antuérpia, e pertence agora ao museu. 

Pode-se ver a história e uma interpretação da pintura na página da londrina Stair Sainty Gallery (aqui), que, segundo parece, embora a informação neste ponto seja lacunar, a adquiriu na Polónia e, mais tarde, a vendeu ao museu.


Quem me enviou o postal andava num périplo pelo oriente e, como se pode ver, o postal acabou por ser espedido da Tailândia. É assim uma lembrança dois-em-um.

A caminho do Missouri (2)




31 de Outubro. Dia de Halloween perfeito. O tempo estava tão miserável em Chicago que não temi ficar em casa. Vento, frio, neve, a primeira do ano, pelo menos no meu bairro. Decerto não seria importunado por trick-or-treaters, são sempre uma maçada. Não fiquei em casa porque tive de ir ao coração do Missouri, novamente. Adoro a estrada, particulamente este trecho da U.S. Route 54, à saída de Atlas, uma pequena localidade perto da fronteira de Illinois com a cidade de Louisiana, no Missouri, do outro lado do Mississippi. Perdi a conta ao número de vezes que fiz  viagem semelhante. Mas tenho a certeza de que, por esta rota, fui apenas quatro vezes.

Sempre notáveis são as cores do Outono no Midwest, que atingem o pico nesta altura. É pena que a distância não permita fazer-lhes justiça.

Suzanne Vega: Tom's Diner



Canção com história interessante. Escrita em 1981 ou 1982, inspirada numa visita ao restaurante do bairro onde a cantora vivia, foi estreada em 1984 e integrada no seu segundo álbum, Solitude Standing (1987). Embora tenha sido escrita para ser acompanhada ao piano, as suas primeiras aparições foram à capela. A canção foi popularizada pelo grupo britânico de música electrónica DNA, que a transformaram numa faixa de dança (aqui). A versão original também é conhecida por ter sido a primeira canção a ser convertida em formato MP3.

John Donne: "A Hymn to God the Father" – e Carl Schalk


Wilt thou forgive that sin where I begun,
     Which was my sin, though it were done before?
Wilt thou forgive that sin, through which I run,
     And do run still, though still I do deplore?
          When thou hast done, thou hast not done,
               For I have more.

Wilt thou forgive that sin which I have won
     Others to sin, and made my sin their door?
Wilt thou forgive that sin which I did shun
     A year or two, but wallow'd in, a score?
          When thou hast done, thou hast not done,
               For I have more.

I have a sin of fear, that when I have spun
     My last thread, I shall perish on the shore;
But swear by thyself, that at my death thy Son
     Shall shine as he shines now, and heretofore;
          And, having done that, thou hast done;
               I fear no more.

Ontem à noite, o Aestas Consort, em concerto na Capela de Nosso Senhor, em River Forest, interpretou este poema com música de Carl Schalk (n. 1929). Maurice Boyer, maestro do coro, diz-me que as três peças de Schalk integradas no programa são recentes (2015-16) e que, tanto quanto sabe, ainda não foram gravadas. 

Schalk é um consagrado compositor de vários géneros de música sacra. Figura em várias colectâneas e as suas composições são usadas por diversas tradições religiosas. Dedicou parte substancial da sua vida ao ensino de música na Universidade Concórdia de Chicago. 

Recomendo vivamente. 

Preston Bradley Hall


Chicago, Illinois (Maio, 2019).

Cúpula de vidro Tiffany, desenhada por J. A. Holzer, no hoje edifício do Centro Cultural de Chicago, inaugurado em 1897 para albegar a primeira biblioteca central da cidade. Actualmente aqui oferecem-se concertos musicais de entrada gratuita. Consta que a cúpula tem cerca de 11.5 metros de diâmetro e 30.000 peças de vidro.

Achado na Net



De resto, é óptimo.
Sobre Discourse on Method and Meditations on First Philosophy, 4.ª ed. (Indianapolis: Hackett, 1998). 

Leituras de Verão (4)


por ordem aproximada de leitura.

Primeira Epístola de S. Pedro.

Segunda Epístola de S. Pedro.

C. S. Lewis, The Abolition of Man or Reflections on Education with Special Reference to the Teaching of English in the Upper Forms of Schools (1943).

A. G. Sertillanges, The Intellectual Life: Its Spirit, Conditions, Methods (1921).

Jon Bonné, The New Wine Rules: A Genuinely Helpful Guide to Everything You Need to Know (2017). Ilust. María Hergueta.

Abel Barros Baptista, E Assim Sucessivamente (2015).

Fernando Armellini e Giuseppe Moretti, Tinha Rosto e Palavras de Homem: Um Perfil de Jesus (1998).

Epístola aos Hebreus.

Jane Austen, Pride and Prejudice (1813).

Martinho Lutero, Explicação do Pai Nosso (1519).

Livro dos Salmos.

Homero, Odisseia.

29 de Setembro


Hoje, dia de S. Miguel Arcanjo, recebo digitalmente de HBS este belo trabalho devocional e tipográfico.

Derivé em Naoshima e Teshima


Um grupo de amigos viajou ao Japão em Fevereiro passado, uma experiência que dizem inesquecível. Alguns decidiram visitar as ilhas de arte contemporânea Naoshima e Teshima, sem plano e sem roteiro. O melhor resultado desta derivé certamente será as impressões que causou na sua memória. O segundo será este artigo acompanhado de belas fotografias, ambos por Laine B, na Here Magazine.

Delito de Opinião – sobre André Silva


Texto de Pedro Correia. Leia-se aqui.

J. S. Bach: Prelúdio em dó menor (BWV 999)


interpretado por Ricardo Gallén.

Salmo 42


Ando a ler o Livro dos Salmos na versão dos Capuchinhos (2008) pela primeira vez. A tradução do versículo 7 (ou 6) faz-me parar:

A minha alma está abatida:
     por isso, penso muito em ti,
     desde as terras do Jordão e dos montes Hermon e Miçar.

Ao contrário de outras versões contemporâneas, a dos Capuchinhos, assim como a tradução que está a ser preparada pela Conferência Episcopal Portuguesa, seguindo a Bíblia hebraica, a Septuaginta e a Vulgata, numera os versículos a partir da rubrica no início do salmo. Isto é particularmente relevante quando se comparam versões. Daí o parêntesis acima.

A versão de João Ferreira de Almeida, na edição Revista e Corrigida, traduz o verbo hebraico zakar pelo verbo "lembrar", mais próximo do original, ao invés de pelo verbo "pensar". Versões de língua inglesa dividem-se em outro ponto: algumas colocam o verbo no presente (NRSV, NASB, ESV), outras, talvez mais próximas do sentido hebraico, no futuro (KJV, NEB, REB), uma vez que zakar está no imperfeito, podendo indiciar um sentido futuro. Na Septuaginta, do mesmo modo, está no futuro. As duas versões portuguesas que menciono optam pelo presente. 

Duas considerações vêm à mente.

Quanto à escolha lexical. A noção de lembrança é uma das noções fundamentais do Antigo Testamento. zakar significa trazer à memória experiências passadas e, muitas vezes, refere-se particularmente à experiência redentora do êxodo. O Salmo 42 refere-se também, por assim dizer, a um exílio, mas de outro tipo: o salmista deseja estar em Jerusalém e no templo, o local do culto e da presença tangível de Deus, mas encontra-se deslocado no norte, na região de Hermon, de onde nasce o Jordão, sem poder vir a Jerusalém. Está por isso fora das fronteiras de Israel, factor que contribui para que alguns conjecturem que esteja de facto exilado. Em qualquer dos casos, tristeza e ansiedade resultam da situação, mas a fé insiste em afirmar-se, porque lembrar Deus, nas escrituras hebraicas, é sobretudo confiar na sua providência e ancorar essa confiança em actos providenciais do passado. Lembrar Deus é confiar nele.

Quanto ao tempo verbal, a opção pelo futuro é correcta, mas  não exclui que a acção se passe no presente. Usamos o futuro também para designar determinações fortes que estamos executar no momento em que as dizemos ou que vamos executar assim que as tivermos dito. No entanto, a opção pelo presente põe em evidência uma característica incontornável da nossa existência: que é quando as coisas nos correm mal que pensamos em Deus. Mais: a tradução dos Capuchinhos em particular destaca que é quando as coisas nos correm mal que pensamos muito nele.

A caminho do Missouri


o espanto que me fez parar.

Citação 12: Lutero


See, according to this rule the good things we have from God should flow from one to the other and be common to all, so that everyone should 'put on' his neighbor and so conduct himself toward him as if he himself were in the other's place. From Christ the good things have flowed and are flowing into us. He has so "put on" us and acted for us as if he had been what we are. From us they flow on to those who have need of them so that I should lay before God my faith and my righteousness that they may cover and intercede for the sins of my neighbor which I take upon myself and so labor and serve in them as if they were my very own. That is what Christ did for us. This is true love and the genuine rule of a Christian life. Love is true and genuine where there is true and genuine faith. Hence the Apostle says of love in 1 Corinthians 13[:5] that 'it does not seek its own.'

We conclude, therefore, that a Christian lives not in himself, but in Christ and in his neighbor. Otherwise he is not a Christian. He lives in Christ through faith, in his neighbor through love. By faith he is caught up beyond himself into God. By love he descends beneath himself into his neighbor. Yet he always remains in God and in his love, as Christ says in John 1[:51], 'Truly, truly, I say to you, you will see heaven opened, and the angels of God ascending and descending upon the Son of man.'

Martin Luther, The Freedom of a Christian, 1520; AE 31:371

Luke Howard: Future Coda



Califórnia


11 de Julho

1. Em rota para a Califórnia, escala breve no Aeroporto Internacional de Salt Lake City, no Utah,  situado a 1288 metros de altitude, rodeado de montanhas. Pareceu-me que nos picos mais altos ainda alvejava alguma neve. Depois de quatro anos a viver nas flatlands do Midwest, fiquei ligeiramente embevecido.

2. Noite em San Ramon, cidade-satélite de Oakland e de São Francisco. Casa de Maralyn K,  de 85 anos. Uma amiga sua casou com um português e, depois de visitar Portugal, trouxe-lhe de lá um Galo de Barcelos. Maralyn não sabia que o seu hóspede deste fim-de-semana também seria português. Ficou felicíssima com a coincidência e, ainda mais, com o parentesco entre o nome do galo e o meu.

3. Maralyn contou-me histórias da sua família e do brasão que tem pendurado na sala de estar. Contou-me também os contactos que teve com portugueses na região de São Francisco e, nas primeiras décadas da sua vida, na de Los Angeles.

4. Tive parentes chegados a viver na Califórnia durante 31 anos. Ainda tenho cá parentes afastados, a maior parte desconhecidos. Quem é o açoriano que não tem?

5. Horas antes, no vôo entre Salt Lake City e Oakland, a mulher sentada ao meu lado também me contou as experiências que tem com portugueses na Califórnia. Vive em Oakland, num bairro maioritariamente português. Citou-me os nomes de família que conhece, com precisão. Aqui não há enganos: Silva, Pereira, Rocha, Simões, Mendes, Cardoso, Soares, Coelho.

Citação 11: Jane Austen


'Pride,' observed Mary, who piqued herself upon the solidity of her reflections, 'is a very common failing I believe. By all that I have ever read, I am convinced that it is very common indeed, that human nature is particularly prone to it, and that there are very few of us who do not cherish a feeling of self-complacency on the score of some quality or other, real or imaginary. Vanity and pride are different things, though the words are often used synonymously. A person may be proud without being vain. Pride relates more to our opinion of ourselves, vanity to what we would have others think of us.'

Jane Austen, Pride and Prejudice, 1813, cap. 5

Citação 10: Lutero


The term 'our Father' refers to a confidence that we can place solely in God. No other can assist us to get to heaven than this one Father. The Scriptures say, 'No one ascends into heaven but he who descends from heaven, the Son of man' [John 3:13]. In his skin and on his back we too must ascend. Thus all who are heavy-laden, and even those who do not know the meaning of these words, may well pray this prayer.

Martin Luther, An Exposition of the Lord's Prayer [...], 1519; AE 42:23

Entretanto


A médica diz-me que no outro dia pensou em mim.

Esteve a ver um documentário sobre Espanha.

Georges Bizet (1838-1875): L'arlésienne suíte n.º 2 (1879)



Arranjada por Ernest Guiraud quatro anos após a morte de Bizet, esta suíte reúne temas da  L'Arlésienne Suíte n.º 1 de Bizet, composta em 1872 para osquestra sinfónica, e alguns outros temas da obra de Bizet.

Aqui o quarto movimento, Farândola, acompanhado de um comentário genial do internauta MyWorldSpoken no YouTube:

When you enter your classroom 0:00
The teacher delivers the tests 0:17
You write on the test 0:32
You quickly finish the largest task 0:45
You finish the first page 0:55
You move on to the second page 1:05
You are proud of yourself 1:15
You are struggling with task 13. 1:26
You peek at the clock to see what's the time 1:37
You have 20 min till you give the test to the teacher 1:42
You stay calm and finish some tasks but with a bit of stress and struggle 1:52
You're speeding to finish the test 2:14
YOU HAVE 5MIN LEFT! 2:35
You finish the test 2:55
The teacher grabs your test 2:57
You're happy 3:00

Páscoa


Vida. Amor. Paz. Alegria.
Wheaton, Illinois.

Citação 9 / Pia desideria


Be my strength in greatest weakness, that my last meal in this world may be the Holy Supper, my last thought to imagine Jesus crucified and dying, my last word may be to call out with my mouth, 'Father, into Your hands I commend my spirit.'

The Evangelical-Lutheran Prayer Treasury (traduzido do alemão por Matthew Carver, sob o título Lutheran Prayer Companion, St. Louis, Concordia, 2018, p. 32)

What's in the freezer?


Ontem poderia ter sido o dia mais frio de sempre em Chicago. Não foi. Nos 148 anos de registo metereológico nesta cidade, consta que a temperatura mais baixa foi registada no dia 20 de Janeiro de 1985, por volta dos -33º C. O prognóstico de o dia mais frio de sempre estar a chegar animou-me bastante. Os memes do tipo "Mais frio do que a Antárctica" que proliferavam no FB não me impressionaram, mas sinto-me grato por sentir na pele 30 graus negativos. 


Escolas e serviços públicos estiveram encerrados, muitos negócios também, ou fecharam cedo. Wheaton, ao fim da tarde, estava transformada numa cidade fastama. Caminhei alguns quarteirões sem ver gente até entrar no Starbucks, ali à esquina, para uma bebida quente, rodeado de dois ou três pares de resistentes. 


Ao longo do dia, fui várias vezes à rua para caminhar porque há coisas boas que só nos acontecem a primeira vez. Pode não ter sido o dia mais frio de sempre em Chicago, mas sem dúvida foi o dia mais frio da minha vida. Já por isso valeu a pena. 

Postal: John James Audubon


Recebi hoje este postal com ilustração do pintor naturalista John James Audubon (1785-1851). Yellow Red-poll Warbler é uma das 435 aguarelas que compõem o livro The Birds of America, publicadas entre 1827 e 1838, onde Audubon representou pássaros norte-americanos em tamanho real. 


Alguns postais valem pela mensagem que o remetente nos escreve. Outros valem só pela imagem, escolha mais ou menos pensada. Este, definitivamente, vale pelas duas razões.

Edgar Allan Poe: "Annabel Lee"


It was many and many a year ago,
   In a kingdom by the sea,
That a maiden there lived whom you may know
   By the name of Annabel Lee;
And this maiden she lived with no other thought
   Than to love and be loved by me.

I was a child and she was a child,
   In this kingdom by the sea,
But we loved with a love that was more than love—
   I and my Annabel Lee—
With a love that the wingèd seraphs of Heaven
   Coveted her and me.

And this was the reason that, long ago,
   In this kingdom by the sea,
A wind blew out of a cloud, chilling
   My beautiful Annabel Lee;
So that her highborn kinsmen came
   And bore her away from me,
To shut her up in a sepulchre
   In this kingdom by the sea.

The angels, not half so happy in Heaven,
   Went envying her and me—
Yes!—that was the reason (as all men know,
   In this kingdom by the sea)
That the wind came out of the cloud by night,
   Chilling and killing my Annabel Lee.

But our love it was stronger by far than the love
Of those who were older than we—
Of many far wiser than we—
And neither the angels in Heaven above
Nor the demons down under the sea
Can ever dissever my soul from the soul
Of the beautiful Annabel Lee;

For the moon never beams, without bringing me dreams
   Of the beautiful Annabel Lee;
And the stars never rise, but I feel the bright eyes
   Of the beautiful Annabel Lee;
And so, all the night-tide, I lie down by the side
   Of my darling—my darling—my life and my bride,
   In her sepulchre there by the sea—
   In her tomb by the sounding sea.