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A "Adoração dos Magos", de Domingos António de Sequeira, 1828



Segundo notícia do Público, de 27 de Outubro de 2015, o Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) lançou uma campanha para adquirir esta pintura por seiscentos mil euros. Domingos António de Sequeira (1768-1837) é considerado um dos melhores pintores portugueses do séc. XIX e, em Roma, a partir de 1926, dedicou-se à pintura de motivos religiosos. Esta obra tardia integra um conjunto de quatro telas sobre Cristo (que inclui Descida da Cruz, Ascensão de Cristo e Juízo Final – esta última inacabada). 

Dizer que a luz é a grande protagonista nestas pinturas é apenas repetir o que os críticos já disseram. Mas dizê-lo sobre esta obra em particular é relacioná-la com o tempo litúrgico que interpreta (a Epifania, palavra grega que significa "manifestação"), o qual se dedica a declinar a manifestação da identidade de Cristo, que começa com os magos. De acordo com o evangelista Mateus, Jesus é considerado pelos magos rei dos judeus e adorado como Deus. A luz de uma estrela desempenha um papel fundamental, porque é ela que guia os magos e repousa sobre onde o menino estava. Luz, por natureza, manifesta, revela, é a matéria que torna visíveis todas as coisas passíveis de serem vistas.

Na pintura de Domingos Serqueira, a luz da estrela é interpretada teologicamente. Ao contrário do que acontece com outros corpos celestes, a luz desta estrela funciona como um candeeiro que concentra num feixe a luz que de outro modo se dissiparia em todas as direcções: ela aponta para, e incide sobre, o menino; o espaço envolvente é iluminado por contaminação. Aqui a luz  desempenha a mesma função da voz de Deus no monte da transfiguração. 

Sob a incidência da luz da estrela estão os magos do oriente. Repare-se, no entanto, que luz não é apenas emitida pela estrela, mas também pelo menino, cujo corpo brilha de si mesmo e, mais do que a estrela, ilumina os magos. O cântico de Simeão, no Evangelho de Lucas, diz o mesmo assim: que Jesus é luz para alumiar os gentios. E o Evangelho de João: que ele é a luz verdadeira que ilumina todos os homens. 

Adoração dos Magos encontra-se em exibição no MNAA. A campanha angariou apoios particulares e de entidades públicas, mas não sei se foi alcançado o montante necessário para a sua aquisição e se já se encontra na exposição permanente. Se não aconteceu ainda, espero que aconteça, porque o lugar de obras de arte de grande qualidade é o museu, para que estejam acessíveis ao grande público.