Mensagens

A mostrar mensagens de 2020

Achado na net (6)



Sobre a interpretação ao vivo de "Como Calha" por B Fachada no Eléctrico, da Antena 3, aqui.

Godspeed: The Pace of Being Known

Pequeno documentário sobre a agitação do mundo contemporâneo.

Ver aqui.

Times New Roman – história

Alberto Caeiro / Fernando Pessoa (4)

When spring comes round again
I may no longer be in the world.
I would like to think that the spring is a person
So that I could imagine she would weep,
Seeing she had lost her only friend.
But the spring isn’t even a thing:
It’s a manner of speaking.
Not even the flowers come back, or the green leaves.
There are new flowers, new green leaves.
There are other sweet days.
Nothing returns, nothing is repeated, because everything is real.

(de Poemas Inconjuntos; trad. Magaret Jull Costa)

Leituras de Verão (5)

Dava Sobel, Galileo's Daughter: A Historical Memoir of Science, Faith, and Love (New York: Bloomsbury, 2011)
Primeira publicação 1999

Martin Marty, Martin Luther (New York: Viking, 2004)

Mário de Carvalho, Um Deus Passeando Pela Brisa da Tarde, 12.ª ed. (Lisboa: Caminho, 2008)
Primeira publicação 1994

Richard Zimler, The Gospel According to Lazarus (London: Peter Owen, 2019)
Primeira publicação 2016

John Baillie, A Diary of Private Prayer (New York: Charles Scribner's Sons, 1949)
Primeira publicação 1936

Fernando Pessoa, The Complete Works of Alberto Caeiro (New York: New Directions Paperbook, 2020)
Ed. Jerónimo Pizarro e Patricio Ferrari; Trad. Margaret Jull Costa e Patricio Ferrari

Fernando Pessoa, A Little Larger Than the Entire Universe: Selected Poems (New York: Penguin Books, 2006)
Ed. e trad. Richard Zenith

Vergílio Ferreira, Aparição (Lisboa: Círculo de Leitores, 1988)
Primeira publicação 1959

James M. Kittelson, Luther the Reformer: The Story of the Man and His Career (Minneapolis: Ausgsburg, 1986)

Margery Kempe, The Book of Margery Kempe (Oxford: Oxford University Press, 2015)
Trad. Anthony Bale

Citação 18: Mário de Carvalho

Pisoteei meticulosamente o desenho com as minhas botinhas cardadas, até restar apenas uma lavra de areia remexida. Acto inútil. Não se apagam as realidades destruindo-lhes os símbolos. Talvez muitas milhas além, no caminho do cardador outros desenhos aparecessem e outras memórias fossem reavivadas. Estava extinta a congregação do peixe? Eu procurava convencer-me de que sim. Que sabia eu?

Mário de Carvalho, Um Deus Passeando Pela Brisa da Tarde, 1994

Alberto Caeiro / Fernando Pessoa (3)


This is perhaps the last day of my life.
I saluted the sun, raising my right hand, 
But I wasn't saluting it in order to say goodbye.
I was simply showing how pleased I was still to see it, nothing more.

(de Poemas Inconjuntos; trad. Margaret Jull Costa)

Emily Dickinson


Who has not found the heaven below
Will fail of it above.
God's residence is next to mine,
His furniture is love.

Black Lives Matter

George Floyd Memorial, Minneapolis, MN. 5 de Agosto.

Achado na Net (5)

 

Sobre The Book of Margery Kempe, trad. Anthony Bale (Oxford: OUP, 2015).

Citação 17: Lutero

The summons of death comes to us all, and no one can die for another. Every one must fight his own battle with death by himself, alone. We can shout into another's hears, but every one must himself be prepared for the time of death, for I will not be with you then, nor you with me. Therefore every one must himself be armed with the chief things which concern a Christian. And these are what you, my beloved, have heard from me many days ago.

Martin Luther, Sermon on Invocavit Sunday (9-3-1522); AE 51:70

Citação 16: Lutero

We must [...] have love and through love we must do to one another as God has done to us through faith. For without love faith is nothing, as St. Paul says: If I had the tongues of angels and could speak of the highest things in faith, and have not love, I am nothing.

Martin Luther, Sermon on Invocavit Sunday (9-3-1522); AE 51:71

Teolinda Gersão: Lançamento de Alice e Outras Mulheres

A querida amiga Teolinda Gersão estará ao vivo aqui para o lançamento do livro Alice e Outras Mulheres, uma antologia de contos da autora organizada por Nilma Lacerda. A professora de Literatura Portuguesa Marcia Manir também participará na conversa moderada por Taty Leite. O livro colige textos de Teolinda sobre mulheres que, tendo sido publicados ao longo de 40 anos, são agora publicados pela primeira vez no Brasil, pela Oficina Raquel. O evento acontecerá amanhã, às 17h, horário de São Paulo. Para assistir, inscreva-se no link acima.

Fim de tarde


São Francisco em 1906 e a cores



Boas notícias


Ontem, no boletim DealBook do NYT. O regresso do transporte público, por agora, tímido, compreensivelmente.

Citação 15: Galileu


Whatever the course of our lives we should receive them as the highest gift from the hand of God, in which equally reposed the power to do nothing whatever for us. Indeed, we should accept misfortune not only in thanks, but in infinite gratitude to Providence, which by such means detaches us from an excessive love for Earthly things and elevates our minds to the celestial and divine.

Galileu Galilei, Terceira Carta Sobre as Machas Solares a Markus Welser (1-12-1612) [trad. Stillman Drake, 1957]

Citação 14: Denis de Rougemont


Looking for a man and finding only an author, is the reader disappointed by the man or by the author? He is disappointed by the relation of one to the other; by the inadequate man who reveals himself in the author, hence by the author, too, who reveals too little of the man.

Denis de Rougemont, Dramatic Personages, 1947 (trad. Holt, Rinehart and Winston, 1964)

Humor com humor se paga


À primeira vista pareceu uma brincadeira, depois percebi que era mesmo a sério (notícia do Público). Será possível que a direcção de PS Açores tenha uma visão condescendente da população que governa? Ou será isto apenas humor inocente? Talvez seja. No entanto, apesar de o humor que recorre ao estereótipo e ao lugar-comum ser, com certeza, como todo o humor, permitido, ele é raramente inocente. 

Outras imagens da capanha apareceram em que se substitui a vaca por cestas de ananases, queijos e atum-rabilho.




O presidente do PS, Carlos César, publicou a primeira imagem na sua página do Facebook. Tal como ele, alguns comentadores acharam-lhe graça; outros viram nela um insulto ao povo açoriano. Talvez por isso não demorou a aparecerer quem tenha subido à altura.    


Afinal de contas, humor com humor se paga. De preferência, sem insultos.

Arvo Pärt: Arbos



Uma das melhores coisas que ouvi nos útlimos tempos. "Arbos", de Pärt, começa e termina o álbum homónimo, de 1987. A peça foi gravada pelo conjunto de metais da Staatsorchester Stuttgart (a orquestra sinfónica de Estugarda), sob a direcção do estadunidense Dennis Russel Davies. 

Primavera


Caetano Veloso: "Livros"



Sugestão musical da livraria In-Libris no seu blogue. O vídeo usa imagens da curta-metragem The Fantastic Flying Books of Mr. Moris Lessmore, vencedor do oscar dessa categoria em 2012.

Rolling Stones: "Living in a Ghost Town"



Grizelda: Grammar Police


Grizelda no The Spectator, 25 de Abril de 2020.

Quando a realidade transcende a ficção



Diários da Segunda Grande Guerra


Segundo um artigo interessantíssimo de Nina Siegal and Josephine Sedwick, ontem, no The New York Times, "The Lost Diaries of War", existem muitos escritos do período da ocupação nazi da Holanda que estão a ser progressivamente disponibilizados via transcrição digital. 

Estes escritos, diários (mais de 2000) e cartas, foram preservados a pedido do então ministro da educação holandês, Gerrit Bolkestein, no dia 28 de Março de 1944, com o intuito de que no futuro se pudesse, a partir deles, reconstruir a história da Holanda sob o jugo nazi. Muitos holandeses tinham, de facto, passado a escrito as suas experiências durante os quatro anos precedentes, entre eles Anne Frank, cujo diário, pelo menos de nome, é conhecido de todos nós. O país veio a ser libertado em Maio de 1945, e subsequentemente muitos cidadãos entregaram as suas cartas e diários ao arquivo criado para o efeito. Todavia, os autores do artigo lamentam que, na maior parte dos casos, os diários foram ignorados depois da sua catalogação. 

Mais de 90 destes diários já se encontram transcritos na totalidade e disponíveis para leitura no site do Instituto NIOD para o Estudo da Gerra, Holocausto e Genocídio.  

Imagem do NYT. Páginas do diário de Catharina Damen-Ogier, enfermeira da Cruz Vermelha. Neste diário podem ver-se fotografias de colegas da profissão médica e de soldados feridos que tratou, tanto ingleses e franceses, como alemães. 

Tráfego aéreo em Março-Abril


Imagens do Observador e AirNav RadarBox.

Metáforas bélicas


Através da comparação dos textos relevantes de imprensa representativa do Reino Unido, EUA e Alemanha, Sylvia Jaworska, num estudo publicado hoje, 13 de Abril, no Viral Discourse, sugere que a retórica bélica relacionada com o COVID-19 é um fenómeno anglo-americano

O uso de metáforas bélicas tem maior expressão, primeiro, no Reino Unido e, depois, nos EUA. Mas sendo que o estudo analisou apenas a imprensa publicada entre 7 de Janeiro e 31 de Março, a diferença entre os dois países, sugere Jaworska, pode dar-se devido ao atraso relativo do estado de pandemia nos EUA em relação ao Reino Unido, bem como à letargia inicial do governo americano em lidar com a doença.

Já na Alemanha, o uso de metáforas bélicas para falar da pandemia é comparativamente bastante reduzido; palavras dos domínios da ciência e da comunicação são preferidas. Mas aqui  o menor recurso à linguagem bélica pode ser circunstanciada pelo prurido (aliás justificado) causado na imprensa alemã pela associação desse tipo de linguagem com o regime Nazi.

Uma vez que a linguagem influencia acções, comportamentos e atitudes, o estudo termina com a recomendação das opções linguísticas da imprensa alemã, em detrimento das anglo-americanas, para se lidar mais eficazmente com o vírus. A sugestão faz sentido, especialmente porque, como observa a autora, virtudes bélicas são irrelevantes para travar a epidemia, enquanto o esforço médico, científico e comunicativo mostram-se mais adequados.

No entanto, o estudo é em geral pouco convincente, por várias razões. Primeiro, não é claro que na Alemanha se usariam menos metáforas bélicas no contexto da pandemia se a sua história recente tivesse sido outra. Também não é claro que o uso de certas metáforas (neste caso dos domínios da ciência e da comunicação) tenha fomentado melhores práticas na Alemanha ou que, por outro lado, a verificação de certas práticas tenha contribuído para uma melhor escolha vocabular da imprensa. Por último, o título do artigo promete mais do que aquilo que, na verdade, o estudo nos pode dar. A ideia de que o uso de retórica bélica é um fenómeno anglo-americano não fica provada através de um corpora linguístico tão limitado. Ela será fortalecida (ou não) quando se estudar a retórica relacionada com o COVID-19 em imprensas de outros países para além destes três.    

Na imprensa portuguesa, por exemplo, nomes como "combate", "luta" e "linha da frente" e verbos como "combater", "lutar" e "vencer" são comummente usados para descrever situações e actividades enfrentadas ou desenvolvidas pelas autoridades de justiça, forças de segurança e, sim, por pessoas envolvidas na área da saúde. Para já não falar do discurso político e do futebol, ou na celebrada "guerra das audiências" das televisões. Mas, claro, não fiz nem levantamento nem análise estatística de dados.

Em todo o caso, parece-me que a ideia sugerida por Jaworska é um tanto arriscada.

PS: Depois de escrever este post vi que artigos publicados no Internazionale, nos dias 22 e 30 de Março, mostram que o mesmo fenómeno já havia sido notado na Itália, o que não favorece a proposta de Jaworska.

Achado na Net (4)



O mal dele é ter sido leitura escolar. Doutro modo, até seria bom.
Sobre Discoveries and Opinions of Galileo, trad. Stillman Drake (Nova Iorque: Anchor Books, 1957).

John Donne: Death's Duel

"There we leave you, in that blessed dependency, to hang upon him, that hangs upon the cross. There bathe in his tears, there suck at his wounds, and lie down in peace in his grave, till he vouchsafe you a resurrection, and an ascension into that kingdom which he hath purchased for you, with the inestimable price of his incorruptible blood."

Assim termina o último sermão de John Donne, pregado em 25 de Fevereiro de 1631, no White Hall, perante o rei e a família real. A solenidade litúrgica era a primeira Sexta-feira na Quaresma. Donne subiu ao púlpito tão fragilizado pela doença que a congregação suspeitou que não conseguiria proferi-lo, mas, nos diz o editor da sua obra completa no século XIX (Henry Alford), que, então, uma vontade férrea energizou o fébil corpo para cumprir a tarefa sagrada que lhe havia sido confiada.

O sermão foi publicado no ano seguinte, sob o título Death's Duel, or, A Consolation of the Soul, against the dying Life, and living Death of the Body. O frontispício ainda nos diz que a casa real veio a estimar que, com ele, Donne na verdade pregou o sermão do seu próprio funeral. Em verdade, a doença mostrou-se fatal, e Donne acabou por morrer um mês depois, no dia 31 de Março.


* O ano 1630, no frontispício, é, na verdade 1631 no calendário actual. Na Inglaterra de então segui-se o calendário juliano, cujo ano civil começava a 25 de Março. 

Imagem: British Library.
Citação: Henry Alford (ed.), The Works of John Donne with a Memoir of His Life, vol. 6. London: John W. Parker, 1839, p. 298.

John Donne: Hymn to God, My God, in My Sickness


Since I am coming to that holy room,
Where, with thy choir of saints for evermore,
I shall be made thy music; as I come
I tune the instrument here at the door,
And what I must do then, think here before.

Whilst my physicians by their love are grown
Cosmographers, and I their map, who lie
Flat on this bed, that by them may be shown
That this is my south-west discovery,
Per fretum febris, by these straits to die,

I joy, that in these straits I see my west;
For, though their currents yield return to none,
What shall my west hurt me? As west and east
In all flat maps (and I am one) are one,
So death doth touch the resurrection.

Is the Pacific Sea my home? Or are
The eastern riches? Is Jerusalem?
Anyan, and Magellan, and Gibraltar,
All straits, and none but straits, are ways to them,
Whether where Japhet dwelt, or Cham, or Shem.

We think that Paradise and Calvary,
Christ's cross, and Adam's tree, stood in one place;
Look, Lord, and find both Adams met in me;
As the first Adam's sweat surrounds my face,
May the last Adam's blood my soul embrace.

So, in his purple wrapp'd, receive me, Lord;
By these his thorns, give me his other crown;
And as to others' souls I preach'd thy word,
Be this my text, my sermon to mine own:
"Therefore that he may raise, the Lord throws down."

Teresa Esteves da Fonseca / Kurt Weill / Chico Buarque

Quando a insónia bate forte, faço vídeos e canto. Brincadeira, quem me dera ter uma voz assim tão afinada. A Teresa foi minha colega na Faculdade de Letras, e tem feito coisas muito bonitas. 

Da Ópera do Malandro, Chico Buarque (1978). 
Música original: Die Moritat von Mackie (ou Mack the Knife), de Kurt Weill.

Brad Mehldau / Beatles: And I Love Her



Canção escrita por Paul McCartney e John Lennon, integrou o terceiro álbum dos Beatles, A Hard Day's Night (1964), aqui interpretada pelo norte-americano Brad Mehldau e o seu trio no ábum Blues and Balads, gravado em 2012 e 2014, mas lançado apenas em 2016. O álbum contém 7 faixas, todas elas muito boas interpretações de canções de outrém. Uma excelente companhia à noite, especialmente com um copo de vinho.

Um mal nunca vem só


Emily Dickinson: "Prayer is a little implement"


Prayer is the little implement
Through which men reach
Where presence is denied them.
They fling their speech

By means of it in God's ear;
If then He hear,
This sums the apparatus
Comprised in prayer.

Deslocações para férias


Segundo notícia de ontem à noite do Açoriano Oriental, o Secretário da Saúde do Governo Regional dos Açores denuncia que há pessoas a exigir o restabelecimento de ligações aéreas nos Açores para poderem ir de férias. 

Explica que tal se tem vindo a registar depois de o Governo Regional ter autorizado, em casos excepcionais, algumas deslocações, nomeadamente de pessoas que, após terem deixado de estar em vigilância activa em uma ilha, foram autorizadas a regressar à sua ilha de residência.

O pedido de deslocações para férias é um caso típico de: deste ao meu vizinho, também tens de me dar a mim, mas melhor. Ou de: eu cá sinto-me bem. Que quer dizer: não vou contagiar ninguém nem ficar doente.

Aquando da notícia, havia 27 casos confirmados de COVID-19 nos Açores. Hoje, por esta altura, já foram confirmados 33. Os dados da Direcção-Geral da Saúde e da Organização Mundial da Saúde também não sugerem deslocações para férias.

Pico do COVID-19 em Portugal


Ministra da Saúde, hoje.

Citação da Bíblia 4: Isaías


For thus says the high and lofty One
     who inhabits eternity, whose name is Holy:
"I dwell in the high and holy place,
     and also with him who is of a contrite and humble spirit,
to revive the spirit of the humble,
     and to revive the heart of the contrite."

Isaías 57:15 (Revised Standard Version)

Inovação linguística


Acabei de ler num texto publicado há 8 horas:

"Mesmo de corentena vamos festejar."

Talvez aglutinação das palavras "corona" e "quarentena."

Achado na Net (3)



Sobre Documents of the Christian Church, 4.ª ed. (Oxford: OUP, 2011).

Uma versão protestante da famosa "bar joke"


Autor: Colby Jones. Fonte: SirColby.com.

Também esta árvore reverdecerá


Bannockburn, Illinois.

Coisas para fazer


O The New York Times reuniu uma lista de coisas para fazer durante a quarentena, que é actualizada todos os dias de semana. Para aceder, clicar aqui.

As sugestões vão de programas de TV e do cinema à culinária, à música e à literatura. Outras visam envolver toda a família, como é o caso dos jogos de tabuleiro. 

Algumas destas sugestões estão disponíveis para acesso imediato, mas muitas requerem a criação de uma conta no site do jornal. No entanto, para a maior parte das coisas não é preciso assinar e, portanto, o acesso é grátis.

Neste último grupo estão, por exemplo, uma lista de reprodução musical, uma selecção de música por parte dos críticos e outra de livros por parte de escritores.

Por seu turno, o The Guardian oferece uma lista de jogos de vídeo para, paradoxalmente, ajudar pessoas a socializar enquanto praticam distanciamento e isolamento social. Claro que a infelicidade seria que, para conectar-se com pessoas fora de casa, alguém se distanciasse dos que estão em casa. Contudo, para quem o isolamento social é absoluto, o recurso a tais jogos pode ser quase tão vantajoso como um telefonema de um amigo.

Imagens do estado de emergência, do Observador



Distância social


!
Autor: Clay Bennett, na edição de ontem do Chattanooga Times Free Press.


Frederico Lourenço: Latim em tempos de coronavírus


"A beleza absoluta existe. É a língua latina."

Frederico Lourenço, ontem, na estreia do seu recente sítio educacional no Facebook, Latim do zero – Página de Frederico Lourenço para a aprendizagem do Latim

Segundo Lourenço, haverá uma lição por dia e o curso seguirá o método da sua Nova Gramática do Latim.

Esta é uma excelente iniciativa com potencial para mitigar a ansiedade dos tempos.



Vírus chinês?



W. H. Auden: "Luther" (1940)


With conscience cocked to listen for the thunder,
He saw the Devil busy in the wind,
Over the chiming steeples and then under
The doors of nuns and doctors who had sinned.

What apparatus could stave off disaster
Or cut the brambles of man's error down?
Flesh was a silent dog that bites its master,
World a still pond in which its children drown.

The fuse of Judgement spluttered in his head:
"Lord smoke these honeyed insects from their hives.
All Works, Great Men, Societies are bad.
The Just shall live by Faith..." he cried in dread.

And men and women of the world were glad,
Who'd never cared or trembled in their lives.

COVID-19: psicologia de massas e o papel higiénico




De Hong Kong a Austrália, Portugal, Reino Unido, EUA, Canadá, etc., a compra desenfreada de papel higiénico provocada pelo pânico relacionado com o coronavírus parece não ter outra explicação senão através da psicologia de massas. (Em Hong Kong, há cerca de um mês, o pânico já era tal que papel higiénico foi roubado à mão armada.) Artigo da CNN no passado dia 9 dá cinco razões para o fenómeno. As redes sociais sem dúvida facilitam a mimetização de comportamentos e a propagação de pânico à escala global à velocidade da luz. Para uma pequena história de fenómenos semelhantes, clicar aqui.

No Business Insider pode ler-se uma não menos interessante descrição da situação sob uma perspectiva de mercado. Bruce Lee, na Forbes, diz o que toda a gente no fundo sabe: a procura desenfreada de papel higiénico não se fundamenta em recomendações de especialistas, nas entidades dos estados, nem no risco de que o papel higiénico escaceie durante a epidemia, mas nota como o tiro pode sair pela culatra: "this situation can be a bit like poop in a toilet that’s being flushed: a vicious cycle. If you see others hoard toilet paper, that may in turn may make you [sic] worried that panic, regardless of whether it is justified, will lead to actual shortages." Além do pânico geral, o problema é composto pela confusão entre escassez de um produto no supermercado e escassez na produção e/ou distribuição do mesmo produto. Esta última, que é a única que justificaria razoavelmente este tipo de procura, é um cenário que não se antevê. Entretanto, a escassez circunstancial de papel higiénico já fez disparar a venda de bidés

Por isso, o melhor mesmo é encarar a situação com algum humor. Isto é o que o jornal australiano North Territory fez no dia 4 de Março ao imprimir diversas folhas de papel higiénico no próprio jornal. Segundo um tweet do próprio, as vendas da versão impressa do jornal aumentaram em cerca de 17%. Para aligeirar a situação, também há que ver este excerto do Seinfeld:


Achado na Net (2)


Sobre Introducing Feminist Theology, de Anne M. Clifford (Maryknoll, NY: Orbis, 2005).

Quaresma


Este ano comecei a Quaresma cedo. Arreliado com o facto de o Advento e o dia de Natal me terem passado praticamente despercebidos, decidi aclimatar-me à Quaresma cedo, antes que múltiplas ocupações me distraissem de leituras apropriadas.

Foi assim que no fim dos doze dias do Natal e no início da Epifania li paulatinamente o pequeno livro The Passion Pilgrimage (1961), uma colecção de nove sermões do pregador de Detroit Erwin Kurth, que nos pinta as cenas da Paixão com um misto de detalhe histórico e imaginação ao passo que nos leva em peregrinação entre os jardins das oliveiras e da resurreição:

"The itinerary will be from garden to garden. We shall begin in a garden of anguish, and end in a garden of hope. In between, we shall witness what great things God has wrought in our behalf." (p. 17)

Talvez fruto do seu tempo, estes sermões demonstram grande preocupação com a situação histórica e material de fundo  mais do que gostaria de encontrar em textos devocionais. O registo que materializa essa preocupação nem sempre facilita a beleza de expressão, mas aqui deixo alguns passos onde a elaboração poética relampeja forte. 

"[T]he bloody sweat of Jesus came from an utter faintness of the soul. 'My soul is exceeding sorrowful, even unto death.' [...] His eyes did not weep tears. His whole body wept tears. And the tears were as blood." (p. 20)

Aqui uma interpretação da morte que é simultaneamente exacta teologicamente e elegante:

"Sin is death begun; death is sin completed." (p. 21)

A descrição do encontro dos olhos de Pedro nos olhos de Jesus depois de ele o ter negado três vezes nos faz imaginar o que esses olhos diziam:

"Peter looked up, and as he looked, he saw, up there on the portico of the palace, the Lord turning and looking at him. Yes, in all the assembly, the Lord looked upon Peter. Those eyes! They were the eyes of God." (p. 53)

Por fim, a surpresa, o espanto, que tantas vezes nos escapa, de que um dos bandidos na cruz se convertesse naquela hora em que ver Jesus como Senhor e rei exigia mais fé do que nunca, uma fé que transporta montanhas e as atira no mar, que vê o impossível na ordem do possível. Este episódio é um hino à fé como dádiva da graça divina.

"[The penitent thief] could see only a man impaled on a dagger of wood, stripped of clothing, dignity, and earthly power, marred by stripes and thorns; rendered helpless by nails, ropes, and a wooden pin; forsaken by His disciples and rejected by a people who might conceivably have qualified as subjects of the 'kingdom'; yapped at by the leaders and their followers; scorned, ridiculed, reviled; suspended between heaven and earth as though belonging to neither. And yet the thief dared to say, 'This is my Lord and King.' 'Lord, remember me when Thou comest into Thy kindom.' What marvelous insight! What towering faith!" (pp. 86-7)

A resposta de Jesus não podia esperar:

"Today, as soon as thy soul leaves its earthly tabernacle, 'thou shalt be with Me in paradise.' I promise this. I certify it with a 'Verily.' Wouldest thou ask for more? To be with Me is paradise. Paradise does not extend higher or wider or deeper or farther than that."  (p. 90)


Ler literatura portuguesa em inglês


Por vezes releio literatura portuguesa em tradução inglesa. Duas razões: de vida repartida entre quatro cidades (até há pouco tempo cinco) e dois continentes, nem sempre sei onde estão os pertences que me interessam num dado momento ou tenho acesso fácil a eles. Mas também há esta razão: por vezes acomete-me uma curiosidade irreprimível de ver como determinados textos foram traduzidos. A primeira razão foi o que me fez ler a tradução de Jethro Soutar e Annie McDermott (Dalkey Archive, 2017) de A Cidade de Ulisses (Sextante, 2011) de Teolinda Gersão. A segunda é a que me fará ler a tradução de Margaret Jull Costa (Dedalus, 1994) de A Relíquia (1887) de Eça, que tem estado há meses sobre a mesa à espera de ocasião. Como resistir à tentação de saber como o humor cáustico de Eça, tão dependente do idioma português e da caricatura social, se traduz em inglês? No caso dos poemas do(s) Pessoa(s), como o que transcrevo abaixo, leio-os em tradução pelas duas razões ao mesmo tempo.

Alberto Caeiro / Fernando Pessoa (2)


I'm not in a hurry. In a hurry for what?
The sun and moon aren't in a hurry; they're right.
To hurry is to suppose we can overtake our legs
Or leap over our shadow.
No, I'm not in a hurry.
If I stretch out my arm, I'll reach exactly as far as my arm reaches
And not half an inch farther.
I touch where my finger touches, not where I think.
I can only sit down where I am.
This sounds ridiculous, like all absolutely true truths,
But what's really ridiculous is how we're always thinking of
    something else,
And we're always outside it, because we're here.

(de Poemas Inconjuntos; trad. Richard Zenith)

Citação da Bíblia 3: Judas Macabeu


It is easy for many to be hemmed in by few, for in the sight of Heaven there is no difference between saving by many or by few.

1 Macabeus 3:18 (Revised Standard Version)

Alberto Caeiro / Fernando Pessoa


Hoje o Facebook relembra-me de um poema que partilhei neste dia há três anos.

Pouco me importa.
Pouco me importa o quê? Não sei: pouco me importa.

Alberto Caeiro tem sido talvez o Pessoa que mais atrai a minha atenção. O seu humor despretencioso não será a menor das razões.

Quando me perguntam se Portugal fica no hemisfério sul


Clique na imagem.

Citação 13: Sherlock Holmes


'My dear fellow,' said Sherlock Holmes as we sat on either side of the fire in his lodgings at Baker Street, 'life is infinitely stranger than anything which the mind of man could invent. We would not dare to conceive the things which are really mere commonplaces of existence. If we could fly out of that window hand in hand, hover over this great city, gently remove the roofs and peep in at the queer things which are going on, the strange coincidences, the plannings, the cross-purposes, the wonderful chains of events, working through generations and leading to the most outré results, it would make all fiction with its conventionalities and foreseen conclusions most stale and unprofitable.'

Sir Arthur Conan Doyle, "A Case of Identity," The Adventures of Sherlock Holmes, 1892